terça-feira, 6 de outubro de 2015

AS DROGAS E O SAGRADO

"Uma Luz nas Trevas"


Em nossa sociedade moderna, o doente toxicômano é frequentemente visto em várias esferas religiosas e dentro de nossa religião não é diferente. Muitos são aqueles que adentraram nosso culto com o intuito de sanar sua patologia; alguns procuram a religião como um tratamento alternativo, baseado em uma aliança entre a nossa medicina tradicional a medicinal moderno, ou seja tratamento clínico e obviamente outros não reconhece sua enfermidade psíquica, somente procurando ajuda quando ultrapassar com estrépido a barreira do senso ou da realidade comum. O Tradicionalismo reza que o “senso da vida” está estreitamente ligado à noção de sagrado na medida em que neste contém valores mais profundos da existência como a vida e a morte. Muito tem se discutido sobre a questão da Matéria, Espírito e Espiritualidade constituírem um todo, então, refletir sobre o “senso e a realidade” é refletir sobre a Vida.

O toxicômano teria perdido ou poderá vir a perder a noção do sagrado? Sabemos que a religiosidade e a espiritualidade vêm sendo claramente identificadas como fatores protetores ao consumo de drogas em diversos níveis. Estudos têm apontado para evidência de que as pessoas que frequentam regularmente um culto religioso, ou que dão relevante importância à sua crença religiosa, ou ainda que praticam, no cotidiano, as propostas da religião professada, apresentam menores índices de consumo de drogas lícitas e ilícitas. Além disso, os dependentes de drogas apresentam melhores índices de recuperação quando seu tratamento é permeado por uma abordagem espiritual, de qualquer origem, quando comparados a dependentes que são tratados exclusivamente por meio médico.

Desde a antiguidade, os grandes sacerdotes estimulavam um importante “ponto” de nosso cérebro: a Glândula Pineal, que acreditasse desempenhar um importante papel na espiritualidade do Homem e funciona como um elo de ligação entre o corpo e o espírito, em resumo neste ponto reside a “consciência espiritual” do Homem refletida através do corpo físico. Para um melhor entendimento sobre esta polêmica questão, desmembro o assunto em dois níveis: o Mundo Científico e o Mundo Religioso.

No Mundo Científico.

A Glândula Pineal ou epífise neural, apesar das funções fisiológicas desta glândula serem muito discutidas, parece não haver dúvidas quanto ao importante papel que ela exerce na regulação dos chamados ciclos circadianos, que são os ciclos vitais (principalmente o sono) e no controle das atividades sexuais e de reprodução. Há algumas décadas, acreditava-se que a Glândula Pineal fosse um órgão vestigial, assim como o apêndice vermiforme em humanos, sem função atual. No entanto, mesmo órgãos vestigiais podem apresentar alguma função, ocasionalmente diferente da função do órgão do qual se originou. Na Universidade de Yale descobriram que a melatonina está presente em altas concentrações na pineal. A melatonina é um hormônio derivado do aminoácido triptofano, que tem outras funções no sistema nervoso central. A produção de melatonina pela pineal é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. O Jornal FASEB publicação oficial do Federation of American Societies for Experimental Biology, publicou experimentos que a Glândula Pineal podem influenciar a ação de drogas de abuso como a cocaína e antidepressivos e pode também contribuir na regulação da vulnerabilidade neuronal a lesões.

No Mundo Religioso.

Dentro do contexto religioso Iorubá, essa glândula esta ligada ao Orí Inú “a cabeça interior” e Ọ̀rúnmìlà, ou seja, ao Saber Divino. Nela está contida a essência da personalidade, o verdadeiro caráter, o Espírito do Homem que emana diretamente do Deus Criador – Olódùmarè.
Orí Inú é o Ser Interior ou o Ser Espiritual do Homem e é imortal. O Corpo Literário de Ifá, mais precisamente no m Odù Ogbè Ogúndà, nos revela que Orí Inú tem a supremacia sobre o Orí Òde “a cabeça física”. Isto sugere, portanto, o domínio do Espirito sobre a Matéria, que o sucesso ou fracasso do Ser exterior depende essencialmente da natureza dinâmica do interior do Homem e atua como fusão entre nosso consciente e inconsciente. Sendo a parte mais importante do corpo, tem prioridade sobre os ritos litúrgicos, sobre tudo os ritos iniciáticos e constantemente “fortalecido” através da transmissão de àṣẹ, durante os ritos de Iborí que visa restaurar o equilíbrio e a harmônia entre as duas partes.

Na concepção de outras crenças.

Os Hindus a conhecem como Shakra Agna, “o chacra do terceiro olho” o principal órgão do corpo, possuidor de dois chacras ou centros de energia responsáveis pelo desenvolvimento extra físico, como receptores e transmissores de energia vital.”

A glândula pineal tem sido considerada – desde René Descartes em meados do século XVII, que afirmava que nela se situava a alma humana - um órgão com funções transcendentes. Além de Descartes, um escritor inglês com o pseudônimo de Lobsang Rampa, entre outros, dedicaram-se ao estudo deste órgão. Com a forma de pinha (ou de grão), é considerada por estas correntes religioso filosóficas como um terceiro olho devido à sua semelhança estrutural com o órgão visual. Localizada no centro geográfico do cérebro, seria um órgão atrofiado em mutação com relação em nossos ancestrais.”

Os defensores destas capacidades transcendentais deste órgão, consideram-no como uma antena. A glândula pineal tem na sua constituição cristais de apatia. Segundo esta teoria, estes cristais vibram conforme as ondas eletromagnéticas que captassem, o que explicaria a regulação do ciclo menstrual conforme as fases da lua, ou a orientação de uma andorinha em suas migrações. No ser humano, seria capaz de interagir com outras áreas do cérebro como o córtex cerebral, por exemplo, que seria capaz de decodificar essas informações. Já nos outros animais, essa interação seria menos desenvolvida. Esta teoria pretende explicar fenômenos paranormais como a clarividência, a telepatia e a mediunidade."

A Doutrina Espírita dedica-se à formulação destas explicações desde Allan Kardec em meados do século XIX. Na obra Espírita Missionários da Luz, ditada pelo espírito de André Luiz, através da psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, a epífise neural é descrita como a glândula da vida espiritual e mental. Para a Doutrina Espirita, este órgão de elevada expressão no corpo etéreo. Preside os fenômenos nervosos da emotividade, devido a sua ascendência sobre todo o sistema endócrino, e desempenha papel fundamental no campo sexual. Na mesma obra, André Luiz descreve ainda que a epífise está ligada à mente espiritual através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a ciência formal ainda não pode identificar, comandando as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. Na atualidade, o assunto é estudado pelo especialista Dr. Sérgio Felipe de Oliveira. Segundo ele, a pineal seria capaz de gerar forças psíquicas a todos os armazéns autônomos do órgão.”

Apesar de alegações de diversas correntes de que a pineal seria uma "antena" por onde a Alma transmitiria os pensamentos para o cérebro, a extração completa da glândula por cirurgia, realizada em casos de tumores benignos ou malignos, não leva à morte ou qualquer alteração na capacidade de pensamento.

Entendo que aqueles que iniciam e se consagram dentro de nossa religião, passam a ter duas vidas: a religiosa e a profana. Certo de que a primeira influência por demais sobre a segunda... Se analisarmos atentamente o texto acima descrito, poderia perfeitamente concluir que as drogas afastam os adeptos da verdadeira essência do sagrado... Vários são os sacerdotes, principalmente os Babalawó afirmam categoricamente, que o consumo de drogas “enfraquece o poder” recebido durante os ritos litúrgicos; dificulta a comunicação entre os dois planos de existências ọ̀runàiyé “o invisível e o visível” “o espiritual e o material”. O mais grave de tudo, que a droga implica profundamente no Ìwà Pẹ́lẹ̀ – O Caráter do Homem, de suma importância no ciclo de vida de um indivíduo religioso.

Baba Guido Olo Ajagùnà



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

PÈPÉLE – O ALTAR DOS DEUSES IORUBÁS.

O vocábulo pèpéle esta averbado no Dicionário Yorubá–Português, com o significado de “banco de terra feito para dormir, banco de barro, barranco”. Entretanto, dentro do contexto religioso esse substantivo, tem a interpretação e conotação de “Altar”.

Sabemos que no interior dos templos localizados na Mãe Africa, os objetos sagrados que representam as Divindades do Panteão Iorubá, não estão depositados diretamente no solo e sim sobre um piso sobre saliente feito de barro com determinados aglomerados que sacramentam o local. Nesse pèpéle são realizados os ritos de sacrifícios e oferendas.

Em Cuba, especialmente em Matanza, onde antigos escravos propagaram e perpetuaram a Religião dos Iorubás, os seguidores da Regla de Ocha, tem o hábito de colocarem os recipientes que representam suas divindades em belíssimas cristaleiras ou antigos oratórios, sob a influência do sincretismo religioso afro-cubano. Salvo algumas divindades que se recusam a “morar” nessas mobílias antiquárias, e ordenam que sejam depositados sobre pedras, vasos de barros ou porcelanas, troncos de árvores, almofariz de madeira, pilastras ou diretamente no solo. A Tradição Lucumi exige que esses pèpéle, denominados de “Trono” sejam sacramentados através dos ritos propiciatório do sacrifícios.

Nos Terreiros Tradicionais da Bahia e seus descendentes, os pèpéle são construídos na maior parte em alvenaria convencional, que segue um certo padrão que identifique o Ojúb, denominado de “Santo da Casa” ou “Assento Central”. Cada quarto de santo que tenha o seu pèpéle, tem a sua denominação especifica, do qual me reservo no direito de não revelar seus nomes. Em meu conhecimento o único pèpéle que ainda se mantem no barro, seria o Ojúbọ Ọbaluàiyé.

A “super lotação” e o “limitado espaço metropolitano” fazem com que alguns dirigentes sejam obrigados a montar prateleiras, para acomodar a imensa quantidade de “assentamentos” individuais dos membros da casa de santo. Nesse caso a acomodação das vasilhas nas prateleiras, são acomodadas de acordo com a idade de santo, ou seja, de baixo para cima. Quando da necessidade dos ritos de sacrifícios a serem realizados sobre os Ìgbá Òrìṣà esses objetos sagrados são retirados do compartimento e sustentados em outros apoios, muitas vezes diretamente no chão forrado com esteiras, aglomerado de folhas ou simplesmente em um pedaço de tecido.

Em meu entendimento, o pèpéle tem como definição e conceito de “altar e sacrifício” e dos quais são termos mais ou menos correlatos. A menção de um imediatamente sugere o outro. Consequentemente, a palavra “Altar” assumiu um significado comum de um lugar onde o sacrifício é oferecido. O Caudas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, define a referida palavra, como sendo “mesa destinada aos sacrifícios em qualquer religião”. A Grande Enciclopédia Delta Larousse define a mesma palavra como “mesa de pedra destinada aos holocaustos do Templo de Jerusalém”.

Somente em nível de informação, a palavra hebraica mizbéahh (altar) deriva do verbo radical zaváhh (abater; sacrificar) , abatedouro ou a um lugar de sacrifícios. (Gên 8:20; 12:21; 16:2) . A palavra grega thysiastérion (altar) deriva do verbo thýo, que também significa “abater; sacrificar”. Tanto no hebraico como no grego, o significado de altar é sacrificar. No Latim a origem é altus, e poderemos compará-lo ao acima descrito sobre o pèpéle, ou seja, geralmente estão numa posição em evidencia, um pouco acima do nível do chão. Não trata-se apenas um lugar alto, mas um lugar de adoração e sacrifício; um lugar de vida e morte, pois a vida do animal a ser sacrificado justifica a vida daquele que o ofereceu.

Em resumo, o pèpéle é um altar, que deverá ser o ponto de ligação com nossas Divindades. O altar é o Microcosmo (uma sintética imagem do Universo), a posição espiritual onde nossas forças denominadas de Àṣẹ, serão renovadas para com os nossos Òrìṣà. Sob o ponto de vista religioso, o pèpéle representa lugar de oferendas e sacrifícios. Diante desse “altar + divindade” devemos tomar nossas decisões e fazer nossas escolhas. O altar é uma posição espiritual, onde depois de ouvirmos a “voz do oráculo”, iremos oferecer e sacrificar para restabelecer nosso equilíbrio individual ou coletivo, ou seja, manter o equilíbrio de nosso Ẹ̀gbẹ́ com o Ọ̀run. Pèpéle são marcos importantes e através deles zelamos por nossas vidas, seja espiritual, emocional ou naturalmente.

Um forte abraço a todos


Baba Guido Olo Ajagùnà

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

CANDOMBLÉ DE PORTA FECHADA

Porque meu Terreiro de Candomblé é de Porta Fechada?

Simplesmente, por que a maior parte dos adeptos de nossa religião não tem educação alguma; Simples assim!

Quando me refiro ao vocábulo “educação”, não é somente “educação de santo” o tal do “humbe” e sim “educação de berço” mesmo. Candomblé em minha Casa de Santo, são para os meus filhos, seguidores e amigos, que compartilhem da mesma filosofia que a minha.
Em minha humilde concepção, “porta aberta” é sinônimo de: desrespeito a sua bandeira; desfile de roupas, tecidos, apetrechos e calçados; curiosos maliciosos que querem apenas saber sobre os ritos e costumes da casa; desinteressados em se beneficiar com o Àṣẹ Òrìṣà que ali se faz presente, há não ser com um único intuito, o de criticar suas vestes e danças; entre tanto outros. Por isso decide adotar o seguinte critério: Não quero todo mundo tocando os meus sagrados tambores, não quero todo mundo cantando, não quero todo mundo dançando e muito menos todo mundo se manifestando. Mas saibam que aqueles que o fizerem, realmente são amigos do Àṣẹ Ẹ̀gbẹ́.
Não tenho absolutamente nada do que esconder do povo de santo, nem devo satisfação a seu ninguém, apenas não tenho a intenção alguma de me auto promover, ficar fazendo propaganda de minha pessoa religiosa e muito menos de minha casa de santo; realizar exibicionismos com o intuito de mostrar as pessoas, aquilo que eu sei, faço ou deixo de fazer. Quem realmente me conhece, sabe perfeitamente que meu Registro de Consulta, somente é realizado quando o consulente é indicado por alguém, assim como a iniciação e determinadas obrigações do culto. Uma das regras fundamentais do Terreiro da Casa Grande é que o “visitante” esteja na companhia de um dos membros do Ẹ̀gbẹ́.
Essa minha atitude, não tem como base fundamentada sas Grandes Filosofias como a Ordem dos Templários, Gnose, Rosa Cruz e até mesmo de uma Sagrada Mesquita, pois já compartilhava o pensamento de um “candomblé de culto reservado” muito tempo antes de ter o devido conhecimento das regras e normas dos referidos Templos acima mencionados.
Há quem diga que a “porta deva ser fechada” aos ritos internos da casa, pois o salão é apenas “uma festa profana”, “teatro para inglês ver”, “folclore” ou mesmo “brincadeira para se alegrar”. Então que as portas de minha casa se mantenham fechadas e meu candomblé no reservado, não compartilho do mesmo pensamento que “eles”, pois em meu entendimento, nesse espaço também se realiza o sagrado.


Baba Guido Olo Ajagùnà.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Orí & Bọrí – Cada cabeça uma Sentença, cada Cabeça uma Oferenda.


Considero Orí como um Ser Divino, o Ser Consciente, o Ser Protetor Individual de cada um dos habitantes desse mundo. Cada qual que tenha sua cabeça física individual Orí Òde, terá a sua cabeça espiritual também individual Orí Inú. Assim sendo, considero que cada Orí deva receber um tipo de oferenda e sacrifício que lhe seja propicio e favorável para aquele momento. De certo que poderemos encontrar mais de um Orí que desejam ser ofertados com as mesmas comidas, os mesmos animais e até mesmo as bebidas. O que não se deve ocorrer no Culto à Orí, é um “cardápio específico”, do tipo que vemos descritos em apostilas e cadernos, que mais se assemelham a “receitas gastronômicas”.
Durante a minha jornada religiosa, já realizei os mais diversos tipos de B, alguns semelhantes outros diferentes, mas dificilmente idênticos entre si. Durante o Registro de Consulta e a Prescrição Oracular determinar que seja realizado uma oferenda ao Orí do consulente, deverá ser verificado através do próprio oráculo, a variedade de elementos propiciatórios para aquele subterfúgio.
Existem determinados Orí, que apenas “desejam” um simples oferecimento de obì e água fresca; outros, apenas o acompanhamento de comidas secas dos mais variados tipos; enquanto alguns, uma complementação mais elaborada que exige o sacrifícios de animais das mais variadas espécies. Não podemos esquecer que apenas uma “gota de sangue” derramado na cabeça de um determinado indivíduo, pode trazer consequências devastadoras e até mesmo irremediáveis, se o Orí desse indivíduo não estiver preparado para receber esse tipo de oferenda.
Tive a oportunidade de presenciar Ritos de Bonde estavam presentes entre duas e mais de dez pessoas; todas as “mesas” eram idênticas, inclusive frutas, doces e flores, não se observava absolutamente nada de diferente entre uma e outra oferenda. Seria um fenômeno extraordinário da reunião do “Banquete dos Orí Gêmeos”? Obviamente que não, pois mesmo um casal de gêmeos legítimos embora seu Orí Òde assemelhem na fisionomia, cada Orí Inú terá a sua individualidade, particularidade e características próprias.

Baba Guido Olo Ajagùnà


sábado, 12 de setembro de 2015

PANÃN – Um Rito de Transição em Vias de Extinção.

Meu empenho nesse new post é de melhor esclarecer e debater o que já se julga saber por ser de domínio mais ou menos público, entre o povo de santo, sobre uma das cerimônias que precedem os “Ritos de Iniciação e Consagração de um Neófito”, preservando na esfera do silêncio os fundamentos do Panãn.

Trata-se de uma cerimonia comunitária de carácter fundamentalmente religioso, organizado e dirigido pelo Corpo Sacerdotal do Terreiro, e que marca a transição de um indivíduo de um status institucionalizado para outro, ou seja, a reintegração do recém iniciado à sociedade da qual faz parte integrante. Em uma colocação mui particular, o denomino de "Voltar ao estado de consciência e à vida normal".

Não posso deixar de mencionar que, normalmente, os ritos de transição eram praticados em sociedades tradicionais, organizadas em classes ou grupos etários. Nesses "ritos de passagem", praticados em festas e em cerimônias simbólicas, os indivíduos eram retirados da sua situação anterior, considerada menor, para, através de uma prova real ou simbólica, "nascerem" para um novo status, considerado superior.

Nesta cerimônia, são realizadas as “quebras dos interditos” da ìyáwòrìṣà, seguindo da sua reinserção nas tarefas cotidiana do dia a dia. “reaprendizagem das atividades quotidianas”, além de “cozinhar, lavar roupa, usar o pilão, limpar o peixe, fazer compras na feira, cuidar de sua toilette, simular o ato sexual, o parto, ninar uma boneca, passear pela cidade ao braço do marido, escovar as roupas deste ao voltar para casa, fumar, ouvir rádio, assistir televisão e até mesmo reaprender a sua profissão.

Uma de suas etapas consiste em se manifestar a representação de um antigo Mercado de Escravos, onde os ìyáwòrìṣà são apresentados por seus atributos “físicos e psíquicos”, dando inicio a um grande leilão das “peças humanas” como acontecia no período da escravidão, apesar do clima ser ameno e repleto de uma conotação cordial e alegre.

Há quem diga que essa cerimônia não passa de um “pequeno espetáculo” de uma “brincadeira de iaô”, que não tem fundamento algum dentro da liturgia afro brasileira.


Baba Guido Olo Ajagùnà.

Igi Ọdán – Igi Ìrókò












Nascida epífita e espontaneamente, semeada no andar superior da floresta por algum pássaro que se alimentou de seu fruto, esta impressionante árvore resplandece independente do lugar, exibindo poderosas raízes que contrastam com as sombras silvestres e com a folhagem verde escura de uma monstera escandente em seu tronco.
É uma árvore que cresceu na contra mão do usual e comportado de baixo para cima da maioria das árvores. Seu broto nasce no galho de uma árvore, suas raízes descem e ao atingir o solo, começam a se transformar em poderosas raízes. Quem a vê imagina que seja pra lá de centenária, mas foi devido a um expediente ”nada louvável” que, em menos de 40 anos de pura “ingratidão”, chega a alcançar um avantajado porte: ela estrangulou sua hospedeira – a árvore, que lhe serviu de berço e de escada – da qual se nota ainda algum vestígio de sua “vitima”, quase totalmente emparedado em celulose. As outras árvores que estão em seu caminho sofrerão as mesmas consequências. No Estado da Bahia é comum visualizar estes brotos de desenvolvendo até mesmo em construções civis.
O gênero Ficus, da família Moraceae, conta com mais de 1.000 espécies, em geral de folha perene, que apreciam climas amenos em regiões tropicais ou subtropicais e são muito usadas como árvores ornamentais. As flores são diminutas e estão ocultas em cápsulas polposas que depois se transformam nos frutos: um doce figo lampo é afinal um estojinho de flores.














Esta imponente família de árvores, abriga a rara Divindade Ìrókò, do qual possui poucos iniciados e consagrados, nos Terreiros Tradicionais da Nação de ketu. Em território africano, sua esposa chama-se Agboman e sua única irmã Ondo.
No sistema oracular de Ifá, Ìrókò esta relacionado com os ba Odú Òdi Méjì, Ìròsùn Méjì e Ìrtẹ̀ Méjì; com os m Odú Ọ̀fúnyku, Ofun – Ìrọ̀sùn e Ọ̀fún – Ọ̀wnrin, entre outros e no sistema oracular do owó mẹ́rìndílógún com os Odú Ọ̀kànràn, Ìrọ̀sùn, Èjìonil, Ọ̀, Ọ̀fún, Ọ̀wọ́nrín, Ejìla ebra, Èjì Ologbon, Ìká (principal), Obeogúndá, entre outros. A quantidade de figuras do oráculo acima citado, atesta a difícil tarefa de identificar esta rara divindade, que aos olhos daquele que não o conhece com profundidade, acaba por passar despercebido.


Ìrókò é o coletivo das Grandes Árvores, a verdadeira essência da fitolatria. Guardião das florestas centenárias e das mudanças climáticas, A representação da dimensão tempo – espaço e o guardião da ancestralidade. Seus mitos o descrevem como com um homem bonito e forte, que passeava a noite pela floresta com uma tocha na mão. Espirito Ancestral capaz de muitas mágicas e magias e respeitado por todos os seres. Sua essência impulsa os bons e maus pensamento dos caminhantes, pois é, a divindade de todos eles.


Ìrókò, possui algumas representações física além da própria árvore, ou seja, não tem “assentamento convencionais” e sim representações em ferros forjados. Seu principal àṣẹ esta plantado, enterrado, “acomodado” entre as poderosas raízes dessa imponente árvore. Seu tronco ostenta uma faixa ou laço branco, alertando e deixando bem claro aos demais, que ali reside o “sagrado”. Delimita-se o espaço de sua morada com uma cerca e portinhola. Nesse espaço deverá conter um fogareiro, utensílios domésticos para o preparo das oferendas, potes e jarros, enfim, todo o ritual de Ìrókò deverá ser realizado nesse espaço. Quando a necessidade de “limpar” este espaço, deverá ser usada uma vassoura específica da qual não poderá ser utilizada em nenhum outro espaço do Terreiro. “O que se utiliza na casa de Ìrókò não pode ser utilizado em qualquer outra casa.”
Os mitos, nos revelam que os pássaros míticos Kotopori (macho) e Ikujegbe (fêmea) foram os encarregados de espalhar a semente de Ìrókò do òrun para as diversas floresta do àiyé.
Muito se tem discutido sobre o culto de Ìrókò na gameleira branca, cujo o nome cientifico Ficus religiosa, onde esta árvore, esta mais relacionada à àngó. O termo Gameleira (Ficus doliaria), além de ser a designação comum a diversas árvores da família das Moráceas especialmente as do gênero Ficus com madeira utilizada para a confecção de gamelas e inúmeros objetos domésticos. Na antiguidade, quando o culto foi estabelecido em nosso país, os antigos sacerdotes teriam “tratado e acordado entre eles” de que somente poderia haver um iniciado em cada linhagem, rama ou família de santo. Nos tempos atuais, o culto a Ìrókò ainda continua cercado de segredos e mistérios.
Não se pode podar ou mesmo derrubar a árvore Ìrókò sem que antes sejam realizados determinados rituais. Quando haja necessidade de tal, cada pedaço da árvore que se derruba, este deve ser enrolado em pano branco com determinadas substâncias e despachado, numa espécie de rito fúnebre.
Esta proibição esta fundamentada em uma história de Ifá, que nos revela que: Ìrókò antes de vir a Terra, foi consultar Ifá, este lhe aconselhou que renderá homenagem à Èṣù, oferecendo-lhe um bode, um galo, um facão, um machado de lamina dupla e outros ingredientes, mas este se negou a realizar qualquer oferenda. Se considerava forte e invulnerável, já que seu porte avantajado, causava assombro a todos os seres. E ademas, sua casa era o centro de reuniões dos anciões e anciãs da noite, por isso se sentia tão seguro. Passando um tempo, Èṣù insatisfeito com a falta de oferenda, se vingou de Ìrókò. Ensinou aos seres humanos a eficácia da magia de seus galhos e folhas, deu-lhe o facão para podar; revelou o quanto era boa e útil a sua madeira, deu-lhe então o machado para derrubar. Èṣù dedicou todo o seu tempo, a tarefa de que os seres humanos perdessem o medo de Ìrókò e também de que, este não tinha nada de extraordinário, seria simplesmente uma árvore, assim como as outras. Desde esse momento esta madeira é tão cobiçada e proveitosa para os homens que as derrubam sem nenhum escrúpulo para seu próprios benefícios. Assim foi como o grande Ìrókò caiu sob a força da raça humana, como resultado de sua negligência em oferecer à Èṣù o que era de direito.
Os troncos não podem ser queimados e as folhas não pode serem cozidas. Não se pode subir nesta árvore, quando for necessário o uso de suas folhas, colhem-se as que despencaram por si só, ou seja as que estão caídas no chão. Aquelas com a parte superior voltada para cima, serão utilizadas para o “bem” e as voltadas para baixo servem para o “mal”. Para se extrair o sumo de suas folhas, se faz uso do pilão e de determinadas substâncias, não pode ser pilada com nenhuma outra folha. A medicina natural de Ìrókò é conhecida com o nome de r Ìrókò e esta sucessível a diversos feitos tais como: o tratamento de mulheres estéreis e mesmo o alivio para os distúrbios mentais.
Na África, Ìrókò habita única e exclusivamente a árvore Igi Ìrókò, de nome científico Chlorophora excelsa , da família das Moraceae que, por se tratar de uma espécie nativa do território africano não existia no Brasil e por condições climáticas não foi para cá transplantada, embora, entre as mil espécies existente, exista uma que há substitua.
Para o povo Ioruba, esta é a mais antiga das árvores e considerada uma de suas quatro árvores sagradas normalmente cultuadas em todas as regiões que ainda praticam a religião dos Ioruba. No entanto, originalmente, Ìrókò não é considerado uma divindade que possa ser inciado e consagrado na cabeça de ninguém, somente deverá ser reverenciado e ofertado. Diferentemente do Brasil, onde houve raras iniciações desta magnifica divindade. Entre elas a nossa saudosa Mãe Cidália de Ìrókò (Cidália Solidade), que faleceu com 83 anos de idade e superou os 70 anos de de iniciada pelas mãos de Mãe Menininha do Terreiro do Gantois. Mãe Cidália, nasceu em 19 de fevereiro de 1930, bisneta legitima de africanos, foi apontada por Baba Isalẹ́, como filha de Ìrókò ainda na barriga de sua mãe. Esta senhora foi orientada por Mãe Menininha, a levar a criança para fazer santo aos 7 anos de idade.


Ìrókò é a morada de diversas entidades, principalmente a de espíritos infantis conhecidos ritualmente como Àbíkú e tais espíritos são liderados por Oluwere. Quando as crianças se veem perseguidas por sonhos ou qualquer tipo de assombração, é normal que se faça oferendas a Oluwere aos pés de Ìrókò, para afastar o perigo de que estes espíritos maléficos levem embora as crianças da aldeia para o òrun. Durante sete dias e sete noites o ritual é repetido, até que o perigo de mortes infantis seja afastado. Nem sempre essas precauções são suficientes para reter as crianças Àbíkú sobre a terra. Iyájanjansà (Chefe da sociedade dos Àbíkú machos) e Olikó (Chefe da sociedade dos Àbíkú fêmeas) são muito mais forte e ambos não deixam agir o que as pessoas tiverem preparado. “Contra determinados Àbíkú não há remédios; Iyájanjansà e Olikó os atraíra a força para o Céu”.
Inúmeras reuniões de Oo (bruxo) e Àjẹ́ (bruxas) são realizadas ao redor da árvore Ìrókò onde são realizados sacrifícios e oferendas as Divindades Tutelar destas Sociedade. Os mitos também nos revelam que, Yéwà divindade de rara beleza, costuma deitar-se entre as raízes do Ìrókò, afim de contemplar sua beleza e vastidão. Esta amplidão é conhecida entre o povo de santo como àṣẹ gbà-n-gbà.











A árvore Ìrókò não pode ser cortada antes de que haja determinados rituais. Obviamente que isto nem sempre é colocada em pratica, visto que sua madeira é altamente resistente e amplamente comercializada no mundo todo. As crenças locais revelam que as casa que a utilizam são assombradas, a própria madeira produz inquietantes ruídos e até mesmo um som horrível. Exemplo disto são portas fabricadas com esta madeira que abrem e fecham sem explicações lógicas.









O culto a Ìrókò é um dos mais populares em terras Iorubá e as relações com esta divindade quase sempre se baseiam na troca: um pedido feito, quando atendido, sempre deve ser pago pois não se deve correr o risco de desagradar Ìrókò, pois ele costuma perseguir aqueles que lhe devem. Há Ìrókò, em hipótese alguma se promete aquilo que não possa cumprir. Ìrókò está ligado à longevidade, à durabilidade das coisas e ao passar do tempo pois é árvore que pode viver por mais de 200 anos.

Baba Guido Olo Ajagùnà
(artigo de minha autoria publicado no Fórum Okitalande )




domingo, 6 de setembro de 2015

Mo Júbà gbogbo Babalàwo Òtitọ́ Àiyé

Apresento os meus humildes respeitos aos verdadeiros Babalàwo desse mundo”

O título desse “post” pode parecer estranho aos olhos de muitos iniciados e consagrados no Culto à Baba Òrúnmilà-Ifá, quanto ao termo “verdadeiro”. Não tenho a intenção alguma de ofender quem quer que seja, pois isso não faz parte da minha índole.

Denomino de verdadeiro, o Sacerdote de Ifá que tenha Ìwa Pẹ̀lẹ́ – O Bom Caráter, e não aquele que fica denegrindo a imagem de outros sacerdotes de seu próprio culto e muito menos sacerdotes e sacerdotisas do Culto aos Òrìṣà, dizendo que não podemos “fazer isso ou aquilo”. Sem mencionar aqueles que agem de maneira idêntica aos Evangélicos, ou seja, “Arrebanhar as Ovelhas”, sem a menor preocupação se o indivíduo será um escolhido de Baba Òrúnmilà.

Não podemos esquecer o fato de que, no principio do Candomblé Afro Brasileiro, especificamente a partir do Terreiro da Barroquinha, existia a presença de grandes Babalàwos africanos e que deixaram seus descendentes na Bahia e no Pernambuco. Desde então entre as celebres Ìyálòrìṣà e Babalòrìṣà da época se fizeram presentes, Martiniano Eliseu do Bonfim, Rodolfo Martins de Andrade, Manuel Rodolfo Martins, Tio Joaquim, Tio Faustino Dada Adengi, Tio Benzinho, Tio Agostinho, Tio Beneditino, Tio Joaquim do Egba entre outros.
Depois do falecimento de todos os Babalàwo, o Candomblé da Bahia ficou um período sem a presença dos Sacerdotes de Ifá, onde somente a partir da década de 90, com a vinda de Babalàwo africanos e cubanos, houve o renascimento do Culto de Ifá no Brasil. Não posso deixar de mencionar que entre eles estavam também os impostores de Ifá africanos e cubanos.

Durante o período dessa “lastimável ausência” da figura do Babalàwo, nosso Culto Lsẹ̀ Òrìà continuou sobrevivendo da mesma forma. Se a presença do Babalàwo fosse de suma importância e indispensável em nosso culto, o candomblé afro brasileiro deveria ter acabado junto com os Sacerdote de Ifá, o que de fato não ocorreu.

O Verdadeiro Baba e Ìyálòrìà, sabe perfeitamente seus limites dentro do culto; mas não é porque nós deixamos de “riscar e rezar Odù no ìyẹ́ròsùn” para que esse sagrado pó seja adicionado a certos àṣẹ, justifique o fato de sermos criticados e dizer que isso e aquilo esteja errado ou que isso e aquilo não existe. Ninguém tem o direito de nos dizer que aquela iniciação da qual não foi “sacado o Odù do ìyáwò” não tem validade alguma ou tenha que o fazer para que a consagração, as vezes “tão sacrificada e dolorosa” se faça completa. A ausência de um Ọba Eni Oriatẹ durante os ritos iniciáticos não se permite dizer que o noviço foi “bem feito ou mal feito”, entre tantos outros absurdos ditos e escritos, do qual fico a inteira disposição de “quem quer que seja” para um futuro debate sem limites, presencial ou virtual, desde que seja de maneira civilizada, catedrática, acadêmica e com bases fundamentadas; caso contrário não perca o seu tempo, para que eu não perca o meu mais valioso pouco tempo que disponho para as redes sociais.

Aqueles que me conhecem de verdade, sabe que me dedico profundamente aos estudos de Ifá e que há mais de 20 anos tenho a intenção de me iniciar e consagrar-se no Culto de Òrúnmilà-Ifá, mas até o presente momento, não senti a verdadeira confiança em absolutamente ninguém, seja ele Babalàwo africano, brasileiro ou cubano.

Talvez ainda não seja o momento exato para tal façanha, ou ainda não seja o tempo certo determinado por Baba Òrúnmilà. Mas tenham certeza de que se um dia me inciar em Ifá, não farei parte dessa “laia suja e imunda” que tentam de qualquer forma denegrir a imagem dos Sacerdotes de Òrìà dentro do afro brasileiro. Nós tratem com mais respeitos, pois o meu respeito vai acabar onde a sua ignorância começar!!!

Um fraterno abraço aos verdadeiros Babalàwo.

Baba Guido Olo Ajagùnà
(m Òrìà afro brasileiro com muito orgulho)

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

ORÍ MÉJÌ – Duas Cabeças em apenas um corpo?

Hoje gostaria de expor um tema polêmico, muito debatido nas redes sociais, da qual está abarrotada de falsas informações, equívocos e conceitos distorcidos.

O termo Orí Méjì é comumente usado entre o povo de santo para designar indivíduos que possuam a duplicidade de Òrìṣà, em uma única cabeça. Para um melhor entendimento se faz necessário esclarecer que quando adjetivo o termo Méjì significa: dois, duas, casal, par, gêmeos, porém quando quando o referido termo se trata de um substantivo tem o significado de equivoco, falsidade.

Sabemos perfeitamente que durante o complexo e elaborado Rito Iniciático, o ápice da cerimônia será a consagração do noviço através do Òṣù – um amalgamado de substâncias mágico religiosa, do qual denomino de maneira mui particular, o DNA MÍTICO, ou seja, a substância mítica que carrega em si a individualização do Òrìṣà a ser consagrado. Essa junção e misturas de elementos sagrados, será fixada em um ponto preciso e especifico na cabeça do noviço. Obviamente não poderá existir “duas massas distintas” pois em todas as cabeças existem apenas um “ponto exato” destinado a receber o Òṣù.

Esse suposto “ìyáwòrìṣà orí méjì” receberia de que forma dois “Òṣù distintos de dois Òrìṣà distintos” em uma única cabeça física?

Outro fator importante a ser mencionado, é o fato daqueles que se submeteram a suposta “cerimonia de iniciação e consagração de um orí méjì” carregar e receber tudo em duplicidade, ou melhor dizendo, “tudo aquilo que um Òrìṣà receber o outro também receberá em absoluta igualdade”. Com exceção do mais importante entre todos eles o Òṣù.

Se realmente existe a necessidade e obrigatoriedade de ser iniciado e consagrado dois Òrìṣà diferentes em uma única cabeça, que não seja em uma única cerimonia de iniciação e sim em duas, pois em meu conhecimento e entendimento, não existe nenhuma possibilidade de iniciar uma pessoa para duas divindades em uma única vez.

Acredito que uma única pessoa possa ser iniciada e consagrada a várias divindades, quantas forem necessárias, como ocorre em território africano, do qual se trata de uma pratica comum entre os iorubás, embora não seja aceita e até mesmo muito criticada na tradição afro brasileira.

Podemos assentar, cuidar, zelar de quantos Òrìṣà forem necessário em nossa jornada religiosa, mas se formos iniciado e consagrado apenas uma única vez, pertenceremos a uma única Divindade Tutelar.

Não sou, não fui, não pretendo ser e nunca serei o “Dono da Verdade”; então o que aqui acabo de relatar é apenas o meu ponto de vista em particular e sempre respeitando os demais, sobre tudo aqueles que de certa forma se julguem Orí Méjì e aqueles que os iniciaram nos mistérios das religião.

Um forte abraço a todos.


Baba Guido Olo Ajaguna.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ìyá Apáòka do Mogno africano no Velho Mundo para a Jaqueira no Novo Mundo...

Os mitos relatam que existiam três anciãs conhecidas pelos nomes de Ìyá Apáòka, Ìyá Mepere e Ìyá Bokolo, que habitavam, muito antes da fundação da Cidade de Ketu, uma cova localizada nas profundas raízes do imenso Òpó Mẹ́ta Ọ̀gàwó, ou seja, três robustos troncos de mogno africano, uma árvore africana da espécie Khaya grandifoliola da família das Meliaceae. Importante ressaltar que essas três Divindades foram de grande importância para a fundação da Cidade de Ketu.

Quando os descendentes da Cidade de Ketu chegaram ao Brasil, teriam que “acomodar” os fundamentos de Ìyá Apáòka, e assim fora obrigados a substituir o tradicional mogno africano, pela Jaqueira, uma árvore de origem asiática, da espécie Artocarpus intergrifolia da família das Moraceae, do qual foi introduzida no Brasil em meados do Século XVIII.

O porte da Jaqueira e a semelhança de suas folhas com o mogno africano, foram de fundamental importância para a efetiva substituição. Os antigos descendentes de escravos, lhe deram o nome de Tapónurin onde mais tarde passou a ser chamada apenas de Apáòka, em razão de ser a morada de uma divindade do mesmo nome, perdendo-se assim o seu antigo nome. Quanto ao culto à Ìyá Mepere e Ìyá Bokolo, nem sequer atravessaram o Atlântico!

O intuito desse “post” é ressaltar que várias espécies de árvores nativas do Continente Africano foram substituídas por espécies que aqui no Novo Mundo já existiam quando os Nagôs chegaram. De certo que muitas outras espécies foram trazidas por esse povo, sendo que poucas se adaptaram.

Seja nas raízes de um mogno africano ou de uma Jaqueira, Ela sempre será a mesma Divindade, a nossa Grande Mãe Ìyá Apáòka”. Vamos acabar com essa “bobagem” de africanos e neo-africanos que criticam o culto de uma de nossas mais importantes divindades dentro do candomblé afro-brasileiro, dizendo que esse ou aquele Òrìṣà só pode ser cultuado em árvores africanas. “Vocês que são africanos da nova geração, quando chegaram aqui em MEU país, já encontram o culto que seus próprios antepassados aqui deixaram”. Voltem para o seu continente e preste seu culto à Ìyá Apáòka aos pés de um mogno africano, se é que ainda exista esse culto em seu país de origem, do qual eu muito duvido.

De volta ao assunto desse “post”, em meu entendimento, se Ìyá Apáòka não deseja-se ser cultuada em um pé de Jaqueira, ela não teria saído de seu território de origem e muito menos atravessado a imensidão do oceano; e se o fizesse teria de imediato retornado ao território iorubá. De uma coisa eu tenho certeza plena e absoluta:

Ela ainda está e sempre estará entre os filhos da Nação de Ketu”... Ìyá mi O! Ìyá Nbanba! Ìyá Mọ! Ìyá Ọ̀dẹ́! Iba O!

Baba Guido Olo Ajagùnà