sábado, 25 de julho de 2015

“fi ìfẹnukonu” – O ato de beijar em nossa religião.

Sabemos que o beijo na mão significa uma maneira respeitosa de saudação a uma autoridade religiosa. O ato de beijar a mão de um Baba ou Ìyálòrìṣà, assim como de um ẹgbọn (nossos mais velhos), tem origem na Corte Papal, herdado dos antigos ritos romanos, que prestavam um certo culto ao Imperador de Roma e beijavam-lhe, não só as mãos, mas até os pés. Era um gesto de sujeição e obediência, que também se usava para pedir clemência. Dentro da hierarquia da Igreja Católica, sempre os súbditos beijavam as mãos de seus superiores, em sinal de respeito e obediência. Como o Papa e os bispos usavam um anel, o uso de beijar a mão, passou para o anel, e assim, quando se cumprimentava o Papa ou um Bispo, beijava-se-lhe o anel e não a sua mão.

Em alguma linhagens, os membros de um determinado Terreiro de Candomblé, além do tradicional beijar das mãos, beijam a palma das mãos de seus Baba e Ìyá. O beijo na palma da mão tem um significado diferente do beijo na parte de fora da mão, mas até o presente momento ninguém soube me explicar o porque desse ato e aqueles que alguma coisa relataram não tinha sentido algum (pelo menos em minha visão). Na cultura popular, o beijo na palma da mão, tem um sentido mais romântico, onde a maior parte das vezes, esse beijo é sinal de interesse amoroso, e alguns casais explicam que o beijo na palma da mão é dado para que o parceiro(a) guardem o beijo para a eventualidade de um dia estarem separados.

Acredito que todos já tenham presenciado o fato de um Òrìṣà cumprimentar uma pessoa abraçando-a e dando-lhe um beijo na testa. Com certeza esse Ser Encantado, esteja saudando o Òrìṣà Tutelar dessa pessoa, pois sabemos que a energia impregnada no corpo de um iniciado teve como ponto de partida, a parte central da cabeça. No popular o beijo na testa é um beijo que significa respeito e afeto pela outra pessoa. O beijo na testa não necessariamente é realizado entre casais, mas também pode ser entre pais e filhos, amigos e familiares.

A maioria dos Baba e Ìyá antigos dentro de nossa religião, não tem o hábito do “trocar de benção” com seus mais novos, exceto com aqueles que estão no mesmo status ou patamar que o sua soberania. Outros quando retribuem a benção não beijam a mão do outro e sim realizam a famosa “beijo de queixo”, o que em particular acho ridículo e uma atitude desnecessária.

Numa colocação “mui particular” ainda não consigo, deixar de beijar a mão daquele que beija a minha. Muitos de meus mais velhos, inúmeras vezes me chamaram a atenção do fato de eu beijar a mão dos meu próprios filhos, mesmo me justificando no fato de estar pedindo a benção do Òrìṣà de meus ìyáwò. Mas mesmo assim continuo a trocar de benção até mesmo de um abiã. Não vejo nenhum mal nisso, pois todos continuam respeitando a minha Superioridade Sacerdotal.

Mas, beijar a mão, a palma da mão ou a testa, continua ainda hoje a ser um gesto de veneração, de respeito e submissão, e ao mesmo tempo, de certa intimidade e afeto. Devemos lembrar que, os filhos costumavam beijar a mão aos seus pais, senão habitualmente, pelo menos, quando se encontravam depois de alguma ausência. Os afilhados e sobrinhos costumavam cumprimentar os seus padrinhos e tios, beijando-lhes a mão e pedindo-lhes a bênção.

Um beijo na mão e um abraço fraterno à todos os meus irmãos e irmãs da religião.

Baba Guido Olo Ajaguna.

Um comentário:

  1. Eu sou.de acordo o beijo na mão é sinal de respeito e humilde mais não são todos que tem isso já é sinal de arrogância e superioridáde não seria bom exemplo para passar na nossa religião que é tão pura.

    ResponderExcluir