quarta-feira, 23 de setembro de 2015

PÈPÉLE – O ALTAR DOS DEUSES IORUBÁS.

O vocábulo pèpéle esta averbado no Dicionário Yorubá–Português, com o significado de “banco de terra feito para dormir, banco de barro, barranco”. Entretanto, dentro do contexto religioso esse substantivo, tem a interpretação e conotação de “Altar”.

Sabemos que no interior dos templos localizados na Mãe Africa, os objetos sagrados que representam as Divindades do Panteão Iorubá, não estão depositados diretamente no solo e sim sobre um piso sobre saliente feito de barro com determinados aglomerados que sacramentam o local. Nesse pèpéle são realizados os ritos de sacrifícios e oferendas.

Em Cuba, especialmente em Matanza, onde antigos escravos propagaram e perpetuaram a Religião dos Iorubás, os seguidores da Regla de Ocha, tem o hábito de colocarem os recipientes que representam suas divindades em belíssimas cristaleiras ou antigos oratórios, sob a influência do sincretismo religioso afro-cubano. Salvo algumas divindades que se recusam a “morar” nessas mobílias antiquárias, e ordenam que sejam depositados sobre pedras, vasos de barros ou porcelanas, troncos de árvores, almofariz de madeira, pilastras ou diretamente no solo. A Tradição Lucumi exige que esses pèpéle, denominados de “Trono” sejam sacramentados através dos ritos propiciatório do sacrifícios.

Nos Terreiros Tradicionais da Bahia e seus descendentes, os pèpéle são construídos na maior parte em alvenaria convencional, que segue um certo padrão que identifique o Ojúb, denominado de “Santo da Casa” ou “Assento Central”. Cada quarto de santo que tenha o seu pèpéle, tem a sua denominação especifica, do qual me reservo no direito de não revelar seus nomes. Em meu conhecimento o único pèpéle que ainda se mantem no barro, seria o Ojúbọ Ọbaluàiyé.

A “super lotação” e o “limitado espaço metropolitano” fazem com que alguns dirigentes sejam obrigados a montar prateleiras, para acomodar a imensa quantidade de “assentamentos” individuais dos membros da casa de santo. Nesse caso a acomodação das vasilhas nas prateleiras, são acomodadas de acordo com a idade de santo, ou seja, de baixo para cima. Quando da necessidade dos ritos de sacrifícios a serem realizados sobre os Ìgbá Òrìṣà esses objetos sagrados são retirados do compartimento e sustentados em outros apoios, muitas vezes diretamente no chão forrado com esteiras, aglomerado de folhas ou simplesmente em um pedaço de tecido.

Em meu entendimento, o pèpéle tem como definição e conceito de “altar e sacrifício” e dos quais são termos mais ou menos correlatos. A menção de um imediatamente sugere o outro. Consequentemente, a palavra “Altar” assumiu um significado comum de um lugar onde o sacrifício é oferecido. O Caudas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, define a referida palavra, como sendo “mesa destinada aos sacrifícios em qualquer religião”. A Grande Enciclopédia Delta Larousse define a mesma palavra como “mesa de pedra destinada aos holocaustos do Templo de Jerusalém”.

Somente em nível de informação, a palavra hebraica mizbéahh (altar) deriva do verbo radical zaváhh (abater; sacrificar) , abatedouro ou a um lugar de sacrifícios. (Gên 8:20; 12:21; 16:2) . A palavra grega thysiastérion (altar) deriva do verbo thýo, que também significa “abater; sacrificar”. Tanto no hebraico como no grego, o significado de altar é sacrificar. No Latim a origem é altus, e poderemos compará-lo ao acima descrito sobre o pèpéle, ou seja, geralmente estão numa posição em evidencia, um pouco acima do nível do chão. Não trata-se apenas um lugar alto, mas um lugar de adoração e sacrifício; um lugar de vida e morte, pois a vida do animal a ser sacrificado justifica a vida daquele que o ofereceu.

Em resumo, o pèpéle é um altar, que deverá ser o ponto de ligação com nossas Divindades. O altar é o Microcosmo (uma sintética imagem do Universo), a posição espiritual onde nossas forças denominadas de Àṣẹ, serão renovadas para com os nossos Òrìṣà. Sob o ponto de vista religioso, o pèpéle representa lugar de oferendas e sacrifícios. Diante desse “altar + divindade” devemos tomar nossas decisões e fazer nossas escolhas. O altar é uma posição espiritual, onde depois de ouvirmos a “voz do oráculo”, iremos oferecer e sacrificar para restabelecer nosso equilíbrio individual ou coletivo, ou seja, manter o equilíbrio de nosso Ẹ̀gbẹ́ com o Ọ̀run. Pèpéle são marcos importantes e através deles zelamos por nossas vidas, seja espiritual, emocional ou naturalmente.

Um forte abraço a todos


Baba Guido Olo Ajagùnà

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

CANDOMBLÉ DE PORTA FECHADA

Porque meu Terreiro de Candomblé é de Porta Fechada?

Simplesmente, por que a maior parte dos adeptos de nossa religião não tem educação alguma; Simples assim!

Quando me refiro ao vocábulo “educação”, não é somente “educação de santo” o tal do “humbe” e sim “educação de berço” mesmo. Candomblé em minha Casa de Santo, são para os meus filhos, seguidores e amigos, que compartilhem da mesma filosofia que a minha.
Em minha humilde concepção, “porta aberta” é sinônimo de: desrespeito a sua bandeira; desfile de roupas, tecidos, apetrechos e calçados; curiosos maliciosos que querem apenas saber sobre os ritos e costumes da casa; desinteressados em se beneficiar com o Àṣẹ Òrìṣà que ali se faz presente, há não ser com um único intuito, o de criticar suas vestes e danças; entre tanto outros. Por isso decide adotar o seguinte critério: Não quero todo mundo tocando os meus sagrados tambores, não quero todo mundo cantando, não quero todo mundo dançando e muito menos todo mundo se manifestando. Mas saibam que aqueles que o fizerem, realmente são amigos do Àṣẹ Ẹ̀gbẹ́.
Não tenho absolutamente nada do que esconder do povo de santo, nem devo satisfação a seu ninguém, apenas não tenho a intenção alguma de me auto promover, ficar fazendo propaganda de minha pessoa religiosa e muito menos de minha casa de santo; realizar exibicionismos com o intuito de mostrar as pessoas, aquilo que eu sei, faço ou deixo de fazer. Quem realmente me conhece, sabe perfeitamente que meu Registro de Consulta, somente é realizado quando o consulente é indicado por alguém, assim como a iniciação e determinadas obrigações do culto. Uma das regras fundamentais do Terreiro da Casa Grande é que o “visitante” esteja na companhia de um dos membros do Ẹ̀gbẹ́.
Essa minha atitude, não tem como base fundamentada sas Grandes Filosofias como a Ordem dos Templários, Gnose, Rosa Cruz e até mesmo de uma Sagrada Mesquita, pois já compartilhava o pensamento de um “candomblé de culto reservado” muito tempo antes de ter o devido conhecimento das regras e normas dos referidos Templos acima mencionados.
Há quem diga que a “porta deva ser fechada” aos ritos internos da casa, pois o salão é apenas “uma festa profana”, “teatro para inglês ver”, “folclore” ou mesmo “brincadeira para se alegrar”. Então que as portas de minha casa se mantenham fechadas e meu candomblé no reservado, não compartilho do mesmo pensamento que “eles”, pois em meu entendimento, nesse espaço também se realiza o sagrado.


Baba Guido Olo Ajagùnà.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Orí & Bọrí – Cada cabeça uma Sentença, cada Cabeça uma Oferenda.


Considero Orí como um Ser Divino, o Ser Consciente, o Ser Protetor Individual de cada um dos habitantes desse mundo. Cada qual que tenha sua cabeça física individual Orí Òde, terá a sua cabeça espiritual também individual Orí Inú. Assim sendo, considero que cada Orí deva receber um tipo de oferenda e sacrifício que lhe seja propicio e favorável para aquele momento. De certo que poderemos encontrar mais de um Orí que desejam ser ofertados com as mesmas comidas, os mesmos animais e até mesmo as bebidas. O que não se deve ocorrer no Culto à Orí, é um “cardápio específico”, do tipo que vemos descritos em apostilas e cadernos, que mais se assemelham a “receitas gastronômicas”.
Durante a minha jornada religiosa, já realizei os mais diversos tipos de B, alguns semelhantes outros diferentes, mas dificilmente idênticos entre si. Durante o Registro de Consulta e a Prescrição Oracular determinar que seja realizado uma oferenda ao Orí do consulente, deverá ser verificado através do próprio oráculo, a variedade de elementos propiciatórios para aquele subterfúgio.
Existem determinados Orí, que apenas “desejam” um simples oferecimento de obì e água fresca; outros, apenas o acompanhamento de comidas secas dos mais variados tipos; enquanto alguns, uma complementação mais elaborada que exige o sacrifícios de animais das mais variadas espécies. Não podemos esquecer que apenas uma “gota de sangue” derramado na cabeça de um determinado indivíduo, pode trazer consequências devastadoras e até mesmo irremediáveis, se o Orí desse indivíduo não estiver preparado para receber esse tipo de oferenda.
Tive a oportunidade de presenciar Ritos de Bonde estavam presentes entre duas e mais de dez pessoas; todas as “mesas” eram idênticas, inclusive frutas, doces e flores, não se observava absolutamente nada de diferente entre uma e outra oferenda. Seria um fenômeno extraordinário da reunião do “Banquete dos Orí Gêmeos”? Obviamente que não, pois mesmo um casal de gêmeos legítimos embora seu Orí Òde assemelhem na fisionomia, cada Orí Inú terá a sua individualidade, particularidade e características próprias.

Baba Guido Olo Ajagùnà


sábado, 12 de setembro de 2015

PANÃN – Um Rito de Transição em Vias de Extinção.

Meu empenho nesse new post é de melhor esclarecer e debater o que já se julga saber por ser de domínio mais ou menos público, entre o povo de santo, sobre uma das cerimônias que precedem os “Ritos de Iniciação e Consagração de um Neófito”, preservando na esfera do silêncio os fundamentos do Panãn.

Trata-se de uma cerimonia comunitária de carácter fundamentalmente religioso, organizado e dirigido pelo Corpo Sacerdotal do Terreiro, e que marca a transição de um indivíduo de um status institucionalizado para outro, ou seja, a reintegração do recém iniciado à sociedade da qual faz parte integrante. Em uma colocação mui particular, o denomino de "Voltar ao estado de consciência e à vida normal".

Não posso deixar de mencionar que, normalmente, os ritos de transição eram praticados em sociedades tradicionais, organizadas em classes ou grupos etários. Nesses "ritos de passagem", praticados em festas e em cerimônias simbólicas, os indivíduos eram retirados da sua situação anterior, considerada menor, para, através de uma prova real ou simbólica, "nascerem" para um novo status, considerado superior.

Nesta cerimônia, são realizadas as “quebras dos interditos” da ìyáwòrìṣà, seguindo da sua reinserção nas tarefas cotidiana do dia a dia. “reaprendizagem das atividades quotidianas”, além de “cozinhar, lavar roupa, usar o pilão, limpar o peixe, fazer compras na feira, cuidar de sua toilette, simular o ato sexual, o parto, ninar uma boneca, passear pela cidade ao braço do marido, escovar as roupas deste ao voltar para casa, fumar, ouvir rádio, assistir televisão e até mesmo reaprender a sua profissão.

Uma de suas etapas consiste em se manifestar a representação de um antigo Mercado de Escravos, onde os ìyáwòrìṣà são apresentados por seus atributos “físicos e psíquicos”, dando inicio a um grande leilão das “peças humanas” como acontecia no período da escravidão, apesar do clima ser ameno e repleto de uma conotação cordial e alegre.

Há quem diga que essa cerimônia não passa de um “pequeno espetáculo” de uma “brincadeira de iaô”, que não tem fundamento algum dentro da liturgia afro brasileira.


Baba Guido Olo Ajagùnà.

Igi Ọdán – Igi Ìrókò












Nascida epífita e espontaneamente, semeada no andar superior da floresta por algum pássaro que se alimentou de seu fruto, esta impressionante árvore resplandece independente do lugar, exibindo poderosas raízes que contrastam com as sombras silvestres e com a folhagem verde escura de uma monstera escandente em seu tronco.
É uma árvore que cresceu na contra mão do usual e comportado de baixo para cima da maioria das árvores. Seu broto nasce no galho de uma árvore, suas raízes descem e ao atingir o solo, começam a se transformar em poderosas raízes. Quem a vê imagina que seja pra lá de centenária, mas foi devido a um expediente ”nada louvável” que, em menos de 40 anos de pura “ingratidão”, chega a alcançar um avantajado porte: ela estrangulou sua hospedeira – a árvore, que lhe serviu de berço e de escada – da qual se nota ainda algum vestígio de sua “vitima”, quase totalmente emparedado em celulose. As outras árvores que estão em seu caminho sofrerão as mesmas consequências. No Estado da Bahia é comum visualizar estes brotos de desenvolvendo até mesmo em construções civis.
O gênero Ficus, da família Moraceae, conta com mais de 1.000 espécies, em geral de folha perene, que apreciam climas amenos em regiões tropicais ou subtropicais e são muito usadas como árvores ornamentais. As flores são diminutas e estão ocultas em cápsulas polposas que depois se transformam nos frutos: um doce figo lampo é afinal um estojinho de flores.














Esta imponente família de árvores, abriga a rara Divindade Ìrókò, do qual possui poucos iniciados e consagrados, nos Terreiros Tradicionais da Nação de ketu. Em território africano, sua esposa chama-se Agboman e sua única irmã Ondo.
No sistema oracular de Ifá, Ìrókò esta relacionado com os ba Odú Òdi Méjì, Ìròsùn Méjì e Ìrtẹ̀ Méjì; com os m Odú Ọ̀fúnyku, Ofun – Ìrọ̀sùn e Ọ̀fún – Ọ̀wnrin, entre outros e no sistema oracular do owó mẹ́rìndílógún com os Odú Ọ̀kànràn, Ìrọ̀sùn, Èjìonil, Ọ̀, Ọ̀fún, Ọ̀wọ́nrín, Ejìla ebra, Èjì Ologbon, Ìká (principal), Obeogúndá, entre outros. A quantidade de figuras do oráculo acima citado, atesta a difícil tarefa de identificar esta rara divindade, que aos olhos daquele que não o conhece com profundidade, acaba por passar despercebido.


Ìrókò é o coletivo das Grandes Árvores, a verdadeira essência da fitolatria. Guardião das florestas centenárias e das mudanças climáticas, A representação da dimensão tempo – espaço e o guardião da ancestralidade. Seus mitos o descrevem como com um homem bonito e forte, que passeava a noite pela floresta com uma tocha na mão. Espirito Ancestral capaz de muitas mágicas e magias e respeitado por todos os seres. Sua essência impulsa os bons e maus pensamento dos caminhantes, pois é, a divindade de todos eles.


Ìrókò, possui algumas representações física além da própria árvore, ou seja, não tem “assentamento convencionais” e sim representações em ferros forjados. Seu principal àṣẹ esta plantado, enterrado, “acomodado” entre as poderosas raízes dessa imponente árvore. Seu tronco ostenta uma faixa ou laço branco, alertando e deixando bem claro aos demais, que ali reside o “sagrado”. Delimita-se o espaço de sua morada com uma cerca e portinhola. Nesse espaço deverá conter um fogareiro, utensílios domésticos para o preparo das oferendas, potes e jarros, enfim, todo o ritual de Ìrókò deverá ser realizado nesse espaço. Quando a necessidade de “limpar” este espaço, deverá ser usada uma vassoura específica da qual não poderá ser utilizada em nenhum outro espaço do Terreiro. “O que se utiliza na casa de Ìrókò não pode ser utilizado em qualquer outra casa.”
Os mitos, nos revelam que os pássaros míticos Kotopori (macho) e Ikujegbe (fêmea) foram os encarregados de espalhar a semente de Ìrókò do òrun para as diversas floresta do àiyé.
Muito se tem discutido sobre o culto de Ìrókò na gameleira branca, cujo o nome cientifico Ficus religiosa, onde esta árvore, esta mais relacionada à àngó. O termo Gameleira (Ficus doliaria), além de ser a designação comum a diversas árvores da família das Moráceas especialmente as do gênero Ficus com madeira utilizada para a confecção de gamelas e inúmeros objetos domésticos. Na antiguidade, quando o culto foi estabelecido em nosso país, os antigos sacerdotes teriam “tratado e acordado entre eles” de que somente poderia haver um iniciado em cada linhagem, rama ou família de santo. Nos tempos atuais, o culto a Ìrókò ainda continua cercado de segredos e mistérios.
Não se pode podar ou mesmo derrubar a árvore Ìrókò sem que antes sejam realizados determinados rituais. Quando haja necessidade de tal, cada pedaço da árvore que se derruba, este deve ser enrolado em pano branco com determinadas substâncias e despachado, numa espécie de rito fúnebre.
Esta proibição esta fundamentada em uma história de Ifá, que nos revela que: Ìrókò antes de vir a Terra, foi consultar Ifá, este lhe aconselhou que renderá homenagem à Èṣù, oferecendo-lhe um bode, um galo, um facão, um machado de lamina dupla e outros ingredientes, mas este se negou a realizar qualquer oferenda. Se considerava forte e invulnerável, já que seu porte avantajado, causava assombro a todos os seres. E ademas, sua casa era o centro de reuniões dos anciões e anciãs da noite, por isso se sentia tão seguro. Passando um tempo, Èṣù insatisfeito com a falta de oferenda, se vingou de Ìrókò. Ensinou aos seres humanos a eficácia da magia de seus galhos e folhas, deu-lhe o facão para podar; revelou o quanto era boa e útil a sua madeira, deu-lhe então o machado para derrubar. Èṣù dedicou todo o seu tempo, a tarefa de que os seres humanos perdessem o medo de Ìrókò e também de que, este não tinha nada de extraordinário, seria simplesmente uma árvore, assim como as outras. Desde esse momento esta madeira é tão cobiçada e proveitosa para os homens que as derrubam sem nenhum escrúpulo para seu próprios benefícios. Assim foi como o grande Ìrókò caiu sob a força da raça humana, como resultado de sua negligência em oferecer à Èṣù o que era de direito.
Os troncos não podem ser queimados e as folhas não pode serem cozidas. Não se pode subir nesta árvore, quando for necessário o uso de suas folhas, colhem-se as que despencaram por si só, ou seja as que estão caídas no chão. Aquelas com a parte superior voltada para cima, serão utilizadas para o “bem” e as voltadas para baixo servem para o “mal”. Para se extrair o sumo de suas folhas, se faz uso do pilão e de determinadas substâncias, não pode ser pilada com nenhuma outra folha. A medicina natural de Ìrókò é conhecida com o nome de r Ìrókò e esta sucessível a diversos feitos tais como: o tratamento de mulheres estéreis e mesmo o alivio para os distúrbios mentais.
Na África, Ìrókò habita única e exclusivamente a árvore Igi Ìrókò, de nome científico Chlorophora excelsa , da família das Moraceae que, por se tratar de uma espécie nativa do território africano não existia no Brasil e por condições climáticas não foi para cá transplantada, embora, entre as mil espécies existente, exista uma que há substitua.
Para o povo Ioruba, esta é a mais antiga das árvores e considerada uma de suas quatro árvores sagradas normalmente cultuadas em todas as regiões que ainda praticam a religião dos Ioruba. No entanto, originalmente, Ìrókò não é considerado uma divindade que possa ser inciado e consagrado na cabeça de ninguém, somente deverá ser reverenciado e ofertado. Diferentemente do Brasil, onde houve raras iniciações desta magnifica divindade. Entre elas a nossa saudosa Mãe Cidália de Ìrókò (Cidália Solidade), que faleceu com 83 anos de idade e superou os 70 anos de de iniciada pelas mãos de Mãe Menininha do Terreiro do Gantois. Mãe Cidália, nasceu em 19 de fevereiro de 1930, bisneta legitima de africanos, foi apontada por Baba Isalẹ́, como filha de Ìrókò ainda na barriga de sua mãe. Esta senhora foi orientada por Mãe Menininha, a levar a criança para fazer santo aos 7 anos de idade.


Ìrókò é a morada de diversas entidades, principalmente a de espíritos infantis conhecidos ritualmente como Àbíkú e tais espíritos são liderados por Oluwere. Quando as crianças se veem perseguidas por sonhos ou qualquer tipo de assombração, é normal que se faça oferendas a Oluwere aos pés de Ìrókò, para afastar o perigo de que estes espíritos maléficos levem embora as crianças da aldeia para o òrun. Durante sete dias e sete noites o ritual é repetido, até que o perigo de mortes infantis seja afastado. Nem sempre essas precauções são suficientes para reter as crianças Àbíkú sobre a terra. Iyájanjansà (Chefe da sociedade dos Àbíkú machos) e Olikó (Chefe da sociedade dos Àbíkú fêmeas) são muito mais forte e ambos não deixam agir o que as pessoas tiverem preparado. “Contra determinados Àbíkú não há remédios; Iyájanjansà e Olikó os atraíra a força para o Céu”.
Inúmeras reuniões de Oo (bruxo) e Àjẹ́ (bruxas) são realizadas ao redor da árvore Ìrókò onde são realizados sacrifícios e oferendas as Divindades Tutelar destas Sociedade. Os mitos também nos revelam que, Yéwà divindade de rara beleza, costuma deitar-se entre as raízes do Ìrókò, afim de contemplar sua beleza e vastidão. Esta amplidão é conhecida entre o povo de santo como àṣẹ gbà-n-gbà.











A árvore Ìrókò não pode ser cortada antes de que haja determinados rituais. Obviamente que isto nem sempre é colocada em pratica, visto que sua madeira é altamente resistente e amplamente comercializada no mundo todo. As crenças locais revelam que as casa que a utilizam são assombradas, a própria madeira produz inquietantes ruídos e até mesmo um som horrível. Exemplo disto são portas fabricadas com esta madeira que abrem e fecham sem explicações lógicas.









O culto a Ìrókò é um dos mais populares em terras Iorubá e as relações com esta divindade quase sempre se baseiam na troca: um pedido feito, quando atendido, sempre deve ser pago pois não se deve correr o risco de desagradar Ìrókò, pois ele costuma perseguir aqueles que lhe devem. Há Ìrókò, em hipótese alguma se promete aquilo que não possa cumprir. Ìrókò está ligado à longevidade, à durabilidade das coisas e ao passar do tempo pois é árvore que pode viver por mais de 200 anos.

Baba Guido Olo Ajagùnà
(artigo de minha autoria publicado no Fórum Okitalande )




domingo, 6 de setembro de 2015

Mo Júbà gbogbo Babalàwo Òtitọ́ Àiyé

Apresento os meus humildes respeitos aos verdadeiros Babalàwo desse mundo”

O título desse “post” pode parecer estranho aos olhos de muitos iniciados e consagrados no Culto à Baba Òrúnmilà-Ifá, quanto ao termo “verdadeiro”. Não tenho a intenção alguma de ofender quem quer que seja, pois isso não faz parte da minha índole.

Denomino de verdadeiro, o Sacerdote de Ifá que tenha Ìwa Pẹ̀lẹ́ – O Bom Caráter, e não aquele que fica denegrindo a imagem de outros sacerdotes de seu próprio culto e muito menos sacerdotes e sacerdotisas do Culto aos Òrìṣà, dizendo que não podemos “fazer isso ou aquilo”. Sem mencionar aqueles que agem de maneira idêntica aos Evangélicos, ou seja, “Arrebanhar as Ovelhas”, sem a menor preocupação se o indivíduo será um escolhido de Baba Òrúnmilà.

Não podemos esquecer o fato de que, no principio do Candomblé Afro Brasileiro, especificamente a partir do Terreiro da Barroquinha, existia a presença de grandes Babalàwos africanos e que deixaram seus descendentes na Bahia e no Pernambuco. Desde então entre as celebres Ìyálòrìṣà e Babalòrìṣà da época se fizeram presentes, Martiniano Eliseu do Bonfim, Rodolfo Martins de Andrade, Manuel Rodolfo Martins, Tio Joaquim, Tio Faustino Dada Adengi, Tio Benzinho, Tio Agostinho, Tio Beneditino, Tio Joaquim do Egba entre outros.
Depois do falecimento de todos os Babalàwo, o Candomblé da Bahia ficou um período sem a presença dos Sacerdotes de Ifá, onde somente a partir da década de 90, com a vinda de Babalàwo africanos e cubanos, houve o renascimento do Culto de Ifá no Brasil. Não posso deixar de mencionar que entre eles estavam também os impostores de Ifá africanos e cubanos.

Durante o período dessa “lastimável ausência” da figura do Babalàwo, nosso Culto Lsẹ̀ Òrìà continuou sobrevivendo da mesma forma. Se a presença do Babalàwo fosse de suma importância e indispensável em nosso culto, o candomblé afro brasileiro deveria ter acabado junto com os Sacerdote de Ifá, o que de fato não ocorreu.

O Verdadeiro Baba e Ìyálòrìà, sabe perfeitamente seus limites dentro do culto; mas não é porque nós deixamos de “riscar e rezar Odù no ìyẹ́ròsùn” para que esse sagrado pó seja adicionado a certos àṣẹ, justifique o fato de sermos criticados e dizer que isso e aquilo esteja errado ou que isso e aquilo não existe. Ninguém tem o direito de nos dizer que aquela iniciação da qual não foi “sacado o Odù do ìyáwò” não tem validade alguma ou tenha que o fazer para que a consagração, as vezes “tão sacrificada e dolorosa” se faça completa. A ausência de um Ọba Eni Oriatẹ durante os ritos iniciáticos não se permite dizer que o noviço foi “bem feito ou mal feito”, entre tantos outros absurdos ditos e escritos, do qual fico a inteira disposição de “quem quer que seja” para um futuro debate sem limites, presencial ou virtual, desde que seja de maneira civilizada, catedrática, acadêmica e com bases fundamentadas; caso contrário não perca o seu tempo, para que eu não perca o meu mais valioso pouco tempo que disponho para as redes sociais.

Aqueles que me conhecem de verdade, sabe que me dedico profundamente aos estudos de Ifá e que há mais de 20 anos tenho a intenção de me iniciar e consagrar-se no Culto de Òrúnmilà-Ifá, mas até o presente momento, não senti a verdadeira confiança em absolutamente ninguém, seja ele Babalàwo africano, brasileiro ou cubano.

Talvez ainda não seja o momento exato para tal façanha, ou ainda não seja o tempo certo determinado por Baba Òrúnmilà. Mas tenham certeza de que se um dia me inciar em Ifá, não farei parte dessa “laia suja e imunda” que tentam de qualquer forma denegrir a imagem dos Sacerdotes de Òrìà dentro do afro brasileiro. Nós tratem com mais respeitos, pois o meu respeito vai acabar onde a sua ignorância começar!!!

Um fraterno abraço aos verdadeiros Babalàwo.

Baba Guido Olo Ajagùnà
(m Òrìà afro brasileiro com muito orgulho)