ÒS̩ÙPÁ – A
Lua
O termo Òs̩ùpá esta averbado nos dicionários Yorubá – Português
para a palavra “Lua”. Entretanto, dentro de um contexto religioso, não se
refere apenas ao nome de um corpo celeste e sim de uma Divindade, cuja essência
é puramente feminina, da qual nasce no Odù Ogbè-Òsá.
Essa enigmática Divindade, também
conhecida por seu epíteto Ìkán Ọrún – Um Pingo no Firmamento [Odù Ọkànràn-Òfún]
revela
seus poderes sobrenaturais em vários Odù Méjì e seus Ọmọ Odù.
Os princípios
metafísicos expressos nos Signos de Ifá, postulados da física hiperdimensional
afirmam que os portais são abertos e fechados no Àiyé – Terra, como resultado
da interação de outros planetas, do sol e da lua. Vejamos algumas citações da
Lua dentro do corpo dos seguintes Odù:
Odù Ogbè-Ọyẹkú
“Apenas uma Lua é muito mais luminosa do que todas
as Estrelas” “A Lua Cheia atingiu seu mais luminoso, anunciando um novo
dia”
Odù Ogbè-Òsá
“Seus pedidos devem ser dirigidos
à Órùn – Sol e Òs̩ùpá – Lua” “Revela
o Adura – Oração, que deveremos fazer a primeira Lua do Ano Novo”
Odù Ogbè-Òfún
“Com ou sem a Lua, o Ọba
(Rei), sempre será respeitado quando o encontramos” “A Lua sobre Ọyọ, ajuda o
Alafin (Senhor do Palácio), a saber, o que esta acontecendo nas províncias”
“Revela de como Òs̩olofín outorgou que a Òs̩ùpá reina-se somente durante a noite”
Odù Ìwòri Méjì
“As conseqüências pelo fato de Òs̩ùpá não ter realizado o
sacrifício determinado por Ifá”
Odù
Ìwòri-Irosun
“A guerra entre o Povo
que cultuava Órùn e o Povo que cultuava Òs̩ùpá”
Odù
Iwori-Irete
“A Terra onde de dia
fazia muito calor e a noite muito fria, onde no principio muitos homens
morreram”
Odù
Òdi-Ògúndá
“Ifá de Òs̩ùpá
proíbe seus filhos em ficar ao relento do luar”
Odù
Ọkànràn-Ògúndá
“Determina que em
certas ocasiões se ofereça Saraẹkọ à Òs̩ùpá”
Odù
Ògúnda-Ọkànràn
“A ligaçã entre
Oronã-Àpádá e Òs̩ùpá” “Um
sacrifício à Òs̩ùpá”
Odù Ògúndá-Òs̩é
“A ligação entre Òs̩ùpá e o período menstrual da
mulher”
Odù Òsá Méjì
“Rege as relações existentes entre
Àiyé e Òs̩ùpá” “Os pássaros que desejavam
destruir o algodoeiro de Ọbatala pedem ajuda à Òs̩ùpá”
Odù
Òsá-Òdi
“Porque os pescadores se orientam
pelas fases da lua, para que suas pescarias tenham êxitos”
Odù Òtúrá Méjì
“O Sol não pode capturar a Lua”
Odù Òs̩é-Ogbè
“A influência de Òs̩ùpá em seu Quarto Minguante
sobre as mulheres”
Odù Òs̩é-Ọyẹkú
“Se conhece a Terra
pelo barro e o Céu pela Lua”
Odù
Òfún Méjì
“Revela que seu astro
regente é a Lua” “A Terra da Escuridão” onde somente existia a Luz do Luar.
Odù
Òfún-Ogbè
“Nasce à cerimônia do
sacrifício à Òs̩ùpá.
Odù
Òfún-Òsá
“Os fenômenos e
correntes astrais de Òs̩ùpá
e seu ciclo lunar” “A rivalidade entre a luz do solar e a luz do luar”
A etimologia da palavra
Òs̩ùpá ainda se torna um mistério
para a compreensão humana, do qual repousa na obscuridade.
A maioria das sociedades tem
honrado a presença da Lua como um Ser Místico, sobre tudo a Sociedade Gẹlẹdẹ,
onde em noite de lua crescente durante as reuniões denominadas de Ọrọ Ẹfẹ,
surgem dançarinos carregando mascaras, onde podemos notar claramente o símbolo
da lua crescente, enquanto outros surgem com mascaras, onde a “meia lua” esta em
uma posição invertida.
Outro poder simbolizado pela lua
crescente é também uma referencia ao “tempo do tempo” da cerimônia e a tradição
de uma vigília; se trata do momento mais apropriado para apelar às mulheres
idosas e outras Divindades Anciãs, que são mais atentas durante as horas de
escuridão. “A afinidade sagrada entre a Lua e as Mulheres é encontrada dentro
de nosso útero, aquele lugar escondido que se abre para revelar nosso fluxo
sagrado, seguindo em uníssono, o movimento da lua ou o surgir de um novo ser”
[Ìyá Ademuyiwa].
Durante o Ọrọ
Ẹfẹ são recitados várias canções populares que fazem alusão à Òs̩ùpá. Essas canções são
denominadas de Ẹka, que nem sempre são longas. Muitas
vezes eles são breves, um tipo de condensado do texto mais longo, que pode ser
repetido várias vezes, ou podem ser considerados imagens verbais sucintas que
evocam um contexto mais amplo. Como um provérbio ioruba explica, “é necessário
dar apenas metade do discurso, para a pessoa bem educada, dentro dele”, isto é,
“um fragmento é suficiente para recordar um texto ou um contexto inteiro”. A Ẹka
abaixo é um fragmento que alude a uma canção popular:
...la la la la e jó e e
Òs̩ùpá jó e...
...o le l’Òs̩ùpá ko le já...
Com grande brevidade evoca uma
canção sobre um eclipse, comparando-o a uma luta entre Órùn – O Sol e Òs̩ùpá – A Lua; e que mesmo assim a
Lua continua a seguir o seu caminho dançando.
A relação entre Òs̩ùpá e os Òrìs̩à, principalmente
com as Divindades Fluviais é representada por uma Lua Crescente em miniatura,
presa a uma corrente de elo, com vários outros emblemas também em miniatura. A
essa peça que complementa os “assentamentos” de nossas divindades é
popularmente denominada entre o povo de santo de “penca”.
Em algumas linhagens, ou seja, na
minoria delas, antes de qualquer rito ou cerimônia, de pequeno ou grande porte,
a Lua é consultada para saber em que fase lunar a mesma se encontra; enquanto
que para algumas linhagens isso não passa de meras superstições e crendices
europeias.
Baba Guido Olo Ajaguna
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