quinta-feira, 30 de março de 2017

O TEMPO & O CANDOMBLÉ



Nossas vinte e quatro horas, não são mais suficientes para a nossa rotina de vida, por mais que nos organizamos, faltam-nos tempo para fazer tantas outras coisas que gostaríamos de realizar. 

Temos tempo para a nossa família, para o nosso emprego, para o nosso estudo e raramente temos tempo disponível para frequentar mais assiduamente um Terreiro de Candomblé. Quando digo assíduo, digo aquele membro que não chega apenas na hora da festa e vai embora quando termina a festa. Refiro-me aquele que chega para as funções que antecedem uma Festa de Santo. 

Tempo é tudo no candomblé. Inclusive temos uma divindade com o nome equivocado de "Tempo", do qual sabemos que na realidade se trata de um Nkisi com o nome de Kitembo ou Kindembu. 

O vocábulo tempo muitas vezes é usado de maneira positiva. "Todo o tempo que tenho disponível me dedico a minha religião, ao meu Òrìṣà e à minha Casa de Candomblé. Sempre reservo um tempo em prol da minha religião." 

Por outro lado a palavra tempo, é usada de maneira negativa. "Não tenho tempo para macumba, não tenho tempo para ir ao Terreiro de Candomblé, não tempo para isso ou aquilo." Mas a maioria tem tempo para ir em Terreiros Alheios. 

O tempo engrandece e satisfaz o ego de muitos, quando usados nas celebres frases: "No meu tempo não era assim" ou "Meu tempo é agora". 

O tempo cada vez mais escasso, tem feito mudanças em nossa religião, e a praticidade é uma das grandes responsáveis pela perca dos costumes e tradições. Por mais dolorido que sejam as frases tais como, "Não perco mais o meu tempo em fazendo isso ou aquilo" ou "No meu tempo se fazia assim, mas hoje não temos mais tempo para isso" temos que conviver com esta pratica tão comum nos tempos de hoje.  

Na maior parte das vezes, o ser humano quer fazer a sua própria vontade e receber as coisas no seu próprio tempo. Mas infelizmente o tempo de Ọlọ́run ati Àwọn Òrìṣà são diferentes dos nossos. Eles são perfeitos em tudo aquilo que fazem. Sabem quando é o melhor tempo recebermos certas coisas na nossa vida. Se for merecedor, simplesmente espere e confie. 

Em particular, compreendo que o meu tempo dedicado a minha religião, nunca é perdido. Mas tenho medo de já ter perdido muito tempo dentro do Candomblé. Tenho medo que seja cada vez mais difícil seguir em frente com o Candomblé tão mudado. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapuçar dentro de uma solidão.

De qualquer forma o tempo sempre será o tempo!

Baba Guido Olo Ajagúnà

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